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Olhar de dentro

Moradores do Bairro São Gonçalo questionam a falta de água

Por Ariel Ferreira

 

“Cadê a água?”. Essa pergunta, feita por José Elias de Oliveira, 74 anos, é bem comum entre os residentes de um dos primeiros bairros de Mariana-MG. A escassez de água tem sido um problema cada vez mais frequente e preocupante. “Nesse tempo aí, a gente está sem água demais”, afirma Maria das Neves, 37, comerciante. Segundo os moradores do São Gonçalo, a causa do problema é a má distribuição na cidade. “Aqui em Mariana tem muita água. Eles não estão sabendo é dividir isso”, explica Maria Izabel Gomes, 68.

Giovani, 41, relata que a insuficiência de água “não é porque está faltando. É porque eles desviam a água para outros lugares”. Segundo ele, a água do bairro é dividida com os bairros São Pedro, Rosário e uma parte do Centro. Entretanto, Marcos, funcionário do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana) afirma que “essa água é repartida. De dia é mandada para o São Gonçalo e de noite para o São Pedro”. Ainda de acordo com ele, quando falta água o SAAE disponibiliza caminhões pipas. Porém, nem sempre esse serviço chega até o bairro. “Quando falta água assim, eles mandam pipa, mas teve uma vez que nós pedimos e não mandaram”, conta Maria Izabel. Já para José Elias, esse serviço é totalmente ineficaz, pois “não adianta pedir, se você ligar pra lá ninguém atende”.

Como forma de driblar as dificuldades geradas pela escassez de água, os moradores elaboram várias ações, como aumentar o número de caixas nas casas, buscar água em bicas e rios, pegar água com vizinhos e ainda armazená-la em tambores.

O antes e o depois da rua São Gonçalo

Por Marinete Figueiredo

 

Maria dos Santos, aposentada, 70 anos, nascida e criada no bairro São Gonçalo, conta que “Mariana era uma cidade pequena e essa rua era a única entrada para a cidade. Ela era ligada à Rua Direita e era onde os bandeirantes passavam. Havia poucas casas e a energia elétrica e a água iam só até o cemitério que estava desativado, mas abrigava uma antiga capela”. Ela ainda recorda que o calçamento era todo de “pedras de rio” que dificultavam até mesmo a circulação dos carros. “Existiam apenas dois carros aqui e eles não subiam a rua. Então, quando acontecia algum casamento as noivas tinham que descer tudo a pé”, relembra Maria.

Roseni Silva Gonçalves, 53, costureira e Presidente da Associação do bairro, afirma que a rua melhorou muito depois que asfaltaram tudo e, inclusive, “muitos motoristas abusam da velocidade, no local, e nós moradores queremos a instalação de um redutor de velocidade na rua”.  O maior problema é que, quando o asfalto abre, vários buracos com antigas pedras aparecem, dificultando a passagem.

Apesar de abrigar tantas memórias, a histórica Rua São Gonçalo não recebe a devida atenção. Ela deveria ser mais cuidada e visitada, fazendo parte inclusive do roteiro turístico de Mariana.

O Cruzeiro: uma história de fé

Por Efigênia Catarina do Sacramento Ferreira

 

A irmã Maria Consolação Coelho, 54 anos, relatou que em comemoração aos 50 anos de sua congregação realizaram uma semana missionária em Alvinópolis. Dom Luciano compareceu no encerramento e ficou maravilhado com a participação do povo e desejou que em Mariana acontecesse o mesmo. Padre Paulinho solicitou à congregação e, em 1998, vieram à Paróquia Nossa Senhora da Assunção com as Missões populares com o tema: Novo jeito de se viver. Congregação promotora: Irmã Beneficiência Popular significa o bem no meio do povo.

Segundo o Papa Francisco, em virtude do batismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário. Cada batizado é um sujeito ativo da evangelização.

O Cruzeiro é a marca do cristão, por isto foi elevado no encerramento das missões no bairro São Gonçalo. Ele foi benzido dentro da Igreja pelo Padre José de Arimaleia. O momento foi comemorado com uma linda festa e muitos fogos de artifício.

Valdir Ferreira da Silva, 75, foi um dos que ajudou a carregar a Cruz. Ele diz que foi um dia muito satisfatório: “não sentimos o peso da cruz pela satisfação de todos em carregá-lo”. “Espero que esta fé permaneça sempre e cresça em todos que não estão neste caminho. A cruz deve ser respeitada, pois ela não é uma mentira. Peço desculpa àqueles que sentirem ofendidos. Deus nos deixou dois caminhos. Cada um faz a sua escolha”, declara Valdir.

Todo dia 17 são feitas orações ao pé do cruzeiro em prol da comunidade e dos missionários que ali estiveram.  No dia do aniversário da fundação da cruz é feita uma caminhada com a imagem de Santa Terezinha, a padroeira das missões, da casa do Zete Rôla (na Rua do Catete) até o cruzeiro. São feitas várias orações durante o dia até o encerramento com a missa.

O local passou a ser um ponto marcante da comunidade. Vários eventos já aconteceram ali, como festa das crianças, benção do Santíssimo na procissão e várias outras missões.

O cruzeiro simboliza Cristo e protege a comunidade. Muitos ignoram e o faltam com respeito, jogam lixo no local, jogam baralho, fazem festa. Convidamos essas pessoas para participarem, mas elas quase nunca aceitam.

 

Um homem parado no tempo

Por Karine Alves

 

Por Karine Alves

Com o avanço da tecnologia, o acesso às informações ocorre de forma instantânea e cotidianamente. Para algumas pessoas a tecnologia já se tornou essencial e indispensável. Porém, para outros esse tipo de recurso ainda não faz nenhuma falta. É o caso de Paulo Afonso Pena, 65 anos, morador de Mariana há 20. O comerciante, que nasceu em Ponte Nova, não aderiu a nenhum recurso tecnológico, pois “demoraria muito tempo e eu gastaria muito mais dinheiro tendo que pagar taxa com máquinas de cartão, por exemplo”.

Mesmo assim, o Armarinho Pena continua com seus clientes fiéis. Há mais de 12 anos na Rua João Prefeito Sampaio, o comércio e a casa de Paulo já foram sede da primeira cadeia de mulheres de Mariana, em 1820. Depois foi moradia de dois Prefeitos da cidade, Daniel Carlos Gomes e João Sampaio, cujos nomes designam duas ruas do mesmo bairro.

O Armarinho é diferente de todos os outros da cidade. Sereno e tranquilo, Paulo sempre tem um caso pra contar, assim como todo cliente tem algo a se queixar do lugar. Eles reclamam da falta de interesse dele em atender mesmo quando estão com pressa. Paulo quer mesmo é bater um bom papo. “Tem que ter paciência, se não eu não compraria mais aqui”, diz Jhones, 47.

Na mercearia do Sr. Paulo se encontra de tudo um pouco, mas ao mesmo tempo não se encontra nada, por causa da bagunça e desorganização. Até mesmo o comerciante se perde, tanto nas contas que são anotadas nas velhas cadernetas, quanto nos valores das mercadorias que cada dia tem um preço.

Ocupação: entre problemas e esperanças

Por Gustavo Henrique Silva Reis

 

O sonho da casa própria se torna cada vez mais difícil para famílias de baixa renda da cidade de Mariana devido aos altos preços de imóveis e terrenos no município. Em decorrência dessa dificuldade e da desigualdade social, os moradores da ocupação do bairro São Gonçalo, assim como milhares de outros no país, não viram outra alternativa para conquistarem a casa própria a não ser ocupar um terreno privado. É o que conta um dos moradores que vive há 5 anos na ocupação e prefere não ser identificado. “Meus amigos me chamaram para invadir e eu decidi vir para sair do aluguel”, conta.

Outros residentes também relatam as dificuldades enfrentadas diariamente, como o medo de serem despejados, falta de pavimentação e energia elétrica, esgoto a céu aberto e o tráfico de drogas. “Aqui estava parecendo a cracolândia”, afirma o mesmo morador. Ele ainda afirma que, em conjunto com a comunidade, conseguiram acabar com o problema do tráfico.

Os moradores relatam que a Prefeitura já prometeu várias vezes melhorar a infraestrutura do local, mas até hoje nenhuma obra foi iniciada, nem mesmo na parte mais baixa que já existe há mais de 20 anos.  O próprio acesso à única rua da ocupação foi feito com o esforço e empenho dos moradores.

Mesmo com tantos obstáculos eles não perdem a esperança de um futuro melhor. “Aos poucos vamos melhorando, quem sabe um dia chegamos lá”, diz Carlos, 47, que mora com mais 7 pessoas e afirma que nunca deixa o sonho morrer.

Algumas famílias vindas de distritos também encontram ali uma chance de vida melhor. Como é o caso de Dulcinéia, 22, que vive há 3 anos no local, certa de que hoje não há o risco de ser despejada, mesmo não havendo nenhum acordo sobre a construção no terreno.

No começo do ano, algumas casas da ocupação foram derrubadas pela Prefeitura a pedido do proprietário, Roberto Rodrigues. Algumas famílias estão morando em abrigos cedidos pela Prefeitura, outras voltaram a pagar aluguel ou pediram ajuda aos parentes.

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