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Olhar de fora

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Primeiras incursões no Bairro São Gonçalo

Por Andrezza Lima

 

O bairro São Gonçalo possui muitas casas inacabadas e algumas em construção (nenhuma casa antiga encontrada). Mas aparentemente muitas classes sociais convivem nesse mesmo espaço, pois também existem casas grandes com boa estrutura e acabamento. O bairro faz divisa com uma mata (lado esquerdo), com Passagem de Mariana (ao fundo) e com o bairro Santo Antônio (lado direito). O bairro é bem alto e possui uma bela vista da cidade.

Logo no início da caminhada (feita no dia 29 de junho) encontramos uma senhora sorridente e atenciosa. Dona Mariana Neuza Marques da Silva, 83 anos (Endereço: Beco 1, nº 72 - contato: 35585394). O pai dela era o dono da chácara que deu origem ao bairro Colina, inclusive os pais dela eram portugueses. Ela disse que eles produziam lá quase tudo que precisavam para a subsistência da família e ainda que morou um tempo em São Paulo, mas voltou para Mariana há mais de 20 anos (e desde que voltou vive no São Gonçalo). Confidenciou que gosta muito do bairro e não o trocaria por outro lugar. Apesar disso, disse que o bairro "não tem nada, só alguns barzinhos" e que, portanto, quando precisa ir ao médico, supermercado e banco tem que ir ao Centro (além disso, relatou que a parte baixa do bairro recebe correio com o endereço do Centro em vez de São Gonçalo). Ela também contou (toda cheia de si) que a história de vida da família dela tinha saído no jornal (produzido pela professora Hebe Rôla). Depois de muita prosa, nos despedimos, afinal, ela precisava terminar a caminhada diária dela.

Subimos mais um pouco e logo apareceu Dona Elza Maria, 56 anos, empregada doméstica (endereço: Beco 2, nº 252 - contato 83016328). Cheia de orgulho do bairro, ela disse que gosta de morar lá porque é perto de tudo (e que inclusive é um bairro mais caro para morar por causa disso). Contou que o bairro é seguro, há poucos casos de roubo, mas apesar disso há muita "droga na parte do cruzeiro" (uma espécie de praça com uma cruz que fica na entrada da invasão). Disse ainda que no bairro coexistem muitas religiões (mas não conseguiu esclarecer muito bem quais são e disse que só há uma pequena igreja católica). Ela é dizimista da igreja e participa ativamente das atividades religiosas (dentre as atividade oferecidas no centro comunitário estão: crisma, catequese, terço dos homens e missa todo sábado às 18h). Por fim, contou que o bairro está enchendo de família e que "aqui é maravilhoso, não tenho do que reclamar".

Deixamos Dona Elza seguir seu caminho e continuamos o nosso. Logo na frente encontramos o tal cruzeiro com alguns jovens (que inclusive ficaram um pouco desconfiados com a nossa presença e nós com a presença deles). Encontramos alguns bares, um mini-sacolão, uma lanchonete e um restaurante/mercearia no bairro, mas nenhum pareceu suficientemente expressivo para ser um ponto de encontro (inclusive os moradores disseram ser estabelecimentos novos e alguns até desconheciam a existência deles). O bairro não tem nenhuma escola, nem unidade de saúde e a associação de moradores funciona no centro comunitário, que também é igreja (Rua São Gonçalo, nº 292), mas que fica fechado (a responsável pelo local se chama Roseni, mas ela não estava em casa). Do lado do centro existe uma quadra (também fechada) onde acontecem algumas aulas de ginástica proporcionadas pela Prefeitura. Um pouco depois encontramos o cemitério, pequeno e em reforma.

Abordei uma senhora com semblante sério e tímido. Dona Helena Cândido Teixeira (endereço: Rua São Gonçalo, nº 126 - contato: 35574040) que logo de início disse que morava há 85 anos no bairro (ou seja, desde que nasceu). Disse que gosta do lugar e da vizinhança, mas que enfrentam um grave problema com a falta de água e que muitas vezes precisam de caminhão pipa para abastecer a rua (principalmente na seca). Como as outras, disse que precisar ir até o Centro para conseguir se consultar e fazer compras e que o único ônibus do bairro passa no Santo Antônio, no Centro e no Hospital Monsenhor Horta (não passa nos finais de semana).

Helena disse que estava lavando roupa e logo entendemos que era melhor deixá-la com as suas tarefas. Descemos o morro e perguntei para duas pessoas onde o bairro terminava, uma me disse que acabava no final da rua São Gonçalo e outra que acabava na capela de Santo Antônio (inclusive, alguns moradores não acham que a capela faça parte do bairro). Chegando à capela, nos deparamos com uma linda vista (daquelas de renovar as energias) de montanhas, do ribeirão e da linha férrea e uma trilha sonora dos Racionais que vinha de um lugar logo abaixo, bem escondido do resto da cidade: o bairro Santo Antônio (um bairro bem plano e com casas em construções e inacabadas como as do São Gonçalo).

 

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